Donatello

16:54 2 Comments



Um dia reparas que começaste a ir às compras de fato de treino, que andas sempre apressada no meio da rua, que encomendas tudo online, até as compras de supermercado. Já não fazes transferências, mas passas cheques. Entre semana toda a comida que compras é para levar; bebes o café a andar ou no trabalho; deixaste de te sentar nos cafés e restaurantes. Quando dás por ela já não olhas de lado para as pessoas estranhas do metro. 
Há sempre indivíduos singulares nas carruagens de metro. E não falo só de estilo. Podes ter a sorte de ouvir um discurso religioso a incentivar-te a redimires-te dos teus pecados. Podes apenas ter o azar de alguém com um rabo verdadeiramente americano se sentar à tua beira, enquanto come cheetos (na realidade a culpa é dos assentos demasiado pequenos para o cidadão comum). E depois ainda podes ter a sorte de te deparares com os inigualáveis clichés americanos. Dois polícias de fardas impecáveis e aspeto duro a sair de uma carruagem; um apelidado Morales e um negro de bigode chamado McDonald. Mas as surpresas não ficam por aí.
Tinha pensado em dizer-vos que das famosas pragas (baratas, ratazanas, crocodilos), só tinha visto esquilos. Esses sim, em todo o lado e até se atravessam à minha frente a correr. Teria sido precipitado.



Ainda ontem estavam duas destas na estação de metro. E não estavam nos carris como costuma ser normal, mas na plataforma. Pareciam perfeitamente indiferentes a quem passava, e não éramos poucos.

Também em casa consigo ser surpreendida (e não só pela sujidade).




Por outro lado já não é nenhuma surpresa chegar a casa e ter o meu microondas a cheirar a pipocas. Todos os dias, a todas as horas. Pequeno almoço, almoço e jantar. E há sempre alguns pacotes vazios no caixote de lixo. E passando pelo corredor não é muito estranho também ouvir risos altos vindos de um dos quartos, com o ruído de uma televisão no fundo.

Esta sexta-feira não houve beer time. Porque fomos à happy hour de patologia. Basicamente uma vez por mês o departamento compra comida e cerveja para todos irmos conviver durante umas horas. O convívio passou por nos queixarmos do departamento, que agora só faz happy hour mensalmente (antes era de quinze em quinze dias) e que reduzir à comida. 
Nessa happy hour fui introduzida ao conceito de asian glow, o estado embriagado de quem possui a devida variante genética da ADH.
Entretanto também me tornei especialista em perguntas de quebrar o gelo tipicamente americanas, que nunca me teriam ocorrido. Durante toda a minha vida nunca fui inquirida sobre se era a primeira "médica" na família. Nestas três semanas já mo perguntaram pelo menos quatro vezes. E parece que o facto do meu pai partilhar o mesmo ramo profissional explica muita coisa. Todos terminam com um "humm" conhecedor. Outra pergunta que morres por fazer mal conheces uma pessoa é se ela tem irmãos. Mas convém estares preparada para responder acerca de idades, profissão/ocupação e até semelhanças físicas. 
Se te vires enrascado, num sítio com tantos estrangeiros é sempre uma ótima ideia inquirir acerca de desejos de sair/ficar nos maravilhosos US of A.
Se calhar devia ter ido ao workshop do post anterior, porque me senti um bocado perdida ontem. Fui a uma festa num rooftop por Hell's Kitchen. A festa era de uma maioria asiática, com bastantes holandeses à mistura e um ou outro raro americano. Havia três telhados ligados e atravessamos para o terceiro, com a melhor vista, apenas para voltar para trás após as queixas do vizinho do segundo telhado. Não se queixou do ruído da música, mas tinha medo que algum de nós torcesse um tornozelo e o processasse.


Falando com os outros convidados, parecia que todos tinham viajado imenso e conheciam meio mundo. Quando respondi a algum que a minha vida era aborrecida em comparação, ele disse-me só para olhar em volta. 

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Totally Enourmous Extinct Dinosaurs

10:57 1 Comments

A pedido de alguns (na realidade só de um), continuo a massacrar-vos com fotos da ponte e do pôr do sol e da vista (e não, não me canso dela).
 


Já tenho uma foto na página do lab. Para quem quiser saber mais sobre o meu projeto ou o trabalho do meu chefe, bem como para quem tiver curiosidade para ver com quem trabalho (quem quiser cuscar, vá) podem visitar esta página http://www.columbia.edu/~uh2112/. Se forem do tipo curioso, basta carregar no ícone com as silhuetas. Como podem ver, o meu chefe é um alemão aparentemente sério, mas com um sentido de humor que combina com as fotos dessa página. Ontem tivemos reunião de laboratório, a segunda desde que estou cá. Parece que em todas dedicamos uns quinze minutos a dizer mal dos cell biologists (espero não estar a ofender ninguém). A biologia celular é a ortopedia daqui. E não vou entrar em muitos pormenores, mas no geral muitos deles consideram que a tradução local é nada mais que uma curiosidade não vital para a célula (todo o nosso tema de trabalho), não fazem estudos "in vivo" (e consideram a célula em cultura "in vivo") e usam poucos métodos quantitativos. E, fazendo um quote do meu chefe (imaginem um forte sotaque alemão) "don't get me wrong. I do like cell biologists. Just as much as I like dodos". 
Além de ter uma foto e umas linhas sobre a minha pessoa, também já comecei a cultivar os meus primeiros neurónios. Ainda não têm axónios e vão demorar pelo menos duas semanas até terem sinapses, mas posso vê-los crescer diariamente. E lembrar-me que matei a rata grávida para lhe tirar os embriões e decapitá-los um a um. Estou a pensar em seguir o exemplo da minha colega de trabalho que decidiu salvar um rato e levá-lo para casa (para quem não está familiarizado, trabalhamos com umas ratazanas albinas grandes e gordas, muito fofas mesmo). 
Também já tenho o meu email institucional e é costume receber alguns emails com o assunto "Crime alert - Burglary" e algo deste género:


Ou então apenas emails curiosos como o de hoje: 


Bem, há definitivamente uma coisa que me incomoda aqui. A limpeza americana. Já me tinham dito que os americanos eram no geral pouco asseados. Nunca pensei que chegasse ao ponto de o pessoal de limpeza envernizar o chão sem antes limpar e aspirar. O chão do meu quarto tem todo o tipo de sujidade, especialmente cabelos, muitos deles escuros e compridos, envernizados no chão. No início fiquei muito confusa a tentar limpar e tirá-los, mas depressa descobri que é impossível. Decidi passar a olhar para o meu chão quase como uma daquelas mesas que têm areia envernizada por baixo do tampo de vidro. Se calhar o termo decorativo seria esticar demais a corda. É uma curiosidade estética, Ou inestética neste caso. Só curiosidade. Ao menos posso escrever sobre isso. 
Para além disso ainda não vi nenhuma das minhas colegas de casa a pegar numa esfregona, ou vassoura até. Nada. Existe agora um calendário de limpezas no frigorífico (mensal apenas, e uma delas ainda achava que era excessivo!). Duvido do seu cumprimento regular. Bem, pelo menos a casa de banho é pequena e fácil de limpar e elas não usam muito a cozinha.
Porcos ou não, ainda hoje vi um estranho na passadeira a oferecer para abrigar com o seu guarda-chuva uma senhora enquanto esperavam que o semáforo ficar verde (para sermos correctos, ficar branco). Depois ainda a abrigou pela passadeira e perguntou para que lado ia. 
Mas eu precisava realmente era de outro tipo de workshop para imigrantes. Reparei que tenho um grave problema de acumulação de moedas. Não sei usar as moedas americanas. E não, não é que não saiba o valor delas, mas não é intuitivo. E é sempre mais fácil dar uma nota de $1 quando tens imensa gente apressada atrás de ti e mesmo na caixa a receber o dinheiro. 


Sim, anda toda a gente apressada em NY. Não existe o tomar café com pessoas de manhã. Todos levam o seu café em termos ou nos copos da starbucks e tomam o seu café a caminhar ou no metro ou enquanto trabalham. Também já comprei o meu termos.


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As luzes de Jersey

06:36 0 Comments

Há coisas às quais te vais habituando, como a usar um abre latas, ou aprender a usar portas giratórias (sem atropelar pessoas nem seres atropelada). Há outras às quais te habituas depressa e num espaço de quinze dias consegues esquecer-te que os carros devem parar para tu passares numa passadeira, quando não há semáforos. Outras vais tomando como normais, como o tamanho excessivo dos carros, dos prédios, das pessoas. Outras ainda nem reparas que estão diferentes, como o barulho contínuo do trânsito que até de noite te acompanha. Há algumas que requerem um esforço maior, como fazer a conversão de km para milhas (correr 4 milhas é pouco), ou de ºF para ºC (se puseres o forno a 200 ºF és capaz de pensar que está avariado e até de te admirares com a temperatura máxima que pode atingir). Ainda assim, quando estás na rua e passa por ti um carro de janelas abertas e música nas alturas (geralmente rap, sim, voltamos ao mesmo), lembras-te sempre onde estás. 

Aqui nos Estados Unidos sabem dar espetáculo. É sempre divertido quando estás numa sala de espera, toca um alarme de incêndio e te dizem "pode ser um exercício, pode ser a sério. vamos seguir os procedimentos e fechar esta porta. Se for preciso evacuar, não se preocupem, vimos avisar.". Felizmente és atendida. Vais embora e entras no elevador e está um estranho cheiro muito intenso a torradas queimadas. Vem contigo um bombeiro aparentemente calmo. Sais no hall de entrada e há mais cinco colegas enormes e equipados. Ficas à espera de ver labaredas a saírem de alguma janela lá em cima ou de ouvir que houve alguma fuga de gás. Bem, tanto espectáculo e afinal foi alguém a cozinhar algures no quarto piso.
No outro dia no metro alguém cantava. Como poderia acontecer na Europa. A qualidade da atuação não excedia de modo algum as expectativas para uma atuação de metro. Mas alguém que passava juntou-se a dançar. As pessoas começaram a filmar. Mas não filmavam o artista original, filmavam a pessoa que se juntou a dançar. E no final todos aplaudiam efusivamente. Os americanos são um bom público.
O mesmo se aplica aos estádios. Fui ver os New York red bulls. E antes de começarem a criticar efusivamente a minha decisão de ver soccer, defendo-me com um pedaço de sabedoria popular: a cavalo dado não se olha o dente. Além de saberem dar espetáculo, os americanos sabem capitalizar. Antes de entrar no estádio já havia oportunidade para comprar desde bebidas e comida a propaganda da equipa e até um miúdo dj na tenda red bull. Dentro do estádio estava tudo repleto de barraquinhas de comida e bebida que se repetiam incontáveis vezes a toda a volta, nos dois andares. O estádio em si, encheu. O campo era mais pequeno que os nossos. Os adeptos estavam exultantes e gritavam. Gritavam sempre, em uníssono. Aplaudiam a equipa em todos os passes e cortes, até ao ridículo de eu própria perceber que aquela jogada não iria levar a lado nenhum. E estavam sempre a sair de mãos vazias e voltar com o seu cachorro, a sua cerveja, o seu hamburguer, as suas pipocas, os seus churros, o seu gelado, o seu red bull, como não poderia deixar de ser, não fosse este o red bull arena. Não havia nenhum comentador a relatar o jogo. Mas também não havia muito silêncio. Antes do jogo começar, reparei que todos se levantavam com reverência. Foi apresentada uma senhora, que cantou o hino dos EUA, e todos se mantiveram na sua posição respeituosa e patriótica e até alguns se atreveram mesmo a timidamente acompanhar. Curiosamente, quando o Dempsey entrou em jogo pela equipa adversária (os Seatle Sounders), muitos adeptos dos red bulls começaram a entoar "USA! USA! USA!". Isto só até ele marcar o primeiro e único golo dos sounders. Como não podia deixar de ser, houve entretenimento no intervalo. Os americanos esperam um bom espetáculo também. 





No outro dia juntamo-nos as quatro colegas de casa para jantar e falarmos sobre algumas questões práticas como pagar contas e comprar produtos comuns e outras não tão práticas como definir um calendário de limpezas. Uma delas ficou de encomendar pizza. E, ainda a propósito da nossa conversa de tamanho, foi isto que apareceu, juntamente com uns croissants de alho:


Mas segundo parece esta é a exceção e não a regra. A exceção das pizzas.
Não é de admirar então que quando dizes que os nosso campos de futebol são bastante maiores eles respondam com um profundamente sentido "oh my, that's embarrassing". Apenas equiparável ao igualmente profundo sentimento de desprezo e superioridade para com New Jersey onde ficava o estádio.

Os Metronomy foram atuar numa salinha pequena em Brooklyn, e os $25 gritavam para comparecer. O facto de ser a quinta vez que atuavam em NYC este ano e de o dizerem abertamente tira toda a mística, por mais que tentem emendar que este é definitivamente o sítio mais bonito.  Brooklyn tem todo o encanto de uma cidade pequena, com edifícios baixos e até casinhas e todo o movimento que pertence por direito a qualquer parte de NY. 



Ainda não vos falei do metro. Talvez porque é exactamente igual aos filmes. Mas com uma percentagem maior de pessoas cuja sanidade mental se pode questionar. Talvez porque o adjectivaria como pequeno, quente, velho e porco. E podendo parecer o contrário, não vim para aqui para criticar tudo. Talvez porque adormeço quase sempre. A maior diferença para o metro de outras cidades em que andei é que balança com uma cadência perfeitamente propícia a embalar. Este problema afeta-me a mim e a uma maioria asiática, a qualquer hora do dia, mas torna-se generalizado a partir de uma certa hora da noite.



Este é um sinal que gosto particularmente. À primeira vista parecem demasiados acidentes para um só ano. Depois questionas-te se realmente é preciso um sinal destes. Não será algo assim que demoverá aqueles que tencionarem suicidar-se. Se tiveres coragem, podes perguntar a alguém. Parece que há pessoas que se inclinam a espreitar se o metro vem, tal qual o boneco vermelho da imagem. 
E isto leva-me à questão da sinalética americana. Há sinais em todo o lado, para tudo. Nunca estive em nenhum país tão bem sinalizado. Vou começar a coleccionar algumas fotos para vos mostrar. Para já, um oldie que encontrei enquanto aproveitava uma happy hour (sim, é muito cedo, e sim, bebi um frozen Harrisons).


Para terminar, e passando por sobre o assunto dos dates, que prefiro que fique para outra altura em que tenha uma análise mais fundamentada para partilhar, lamento desiludir quem esperava que eu fosse abordada enquanto lavava a roupa como nos filmes. Aqui nas torres temos uma máquina de lavar roupa e uma secadora por piso. E, tal como tudo na América, está capitalizado. Tudo tem um custo. Até o olá do bartender.

E perdoem-me por continuar a insistir com New Jersey. 

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O sol põe-se em Jersey

11:30 1 Comments

Praticamente todos os dias tiro fotos da janela do meu quarto. Todos os dias encontro uma diferença na luz, nas cores, nos reflexos que justifica uma nova foto. E essa nova foto acaba por ser duas ou três. E só numa semana já tenho uma pasta considerável daquilo que parecem fotos todas iguais. Já nem eu me lembro da diferença que tinha visto. Acho que vou ter material suficiente para abrir uma exposição de fotografia só sobre a ponte George Washington e a vista de New Jersey (podem aproveitar para ir ao google maps espreitar mais ou menos onde estou a morar). Espero que a ligação com o nome do blog não tenha passado despercebida.









Todas estas fotos foram tiradas no mesmo dia, e são apenas uma amostra extensa de uma coleção tremenda e absurdamente extensa do pôr do sol nesse dia.
Já agora aproveito para explicar porque decidi escrever em português. Não é que não esteja confortável a escrever em inglês, ou que não fizesse sentido. Mas este é um blog sobre uma hillbilly portuguesa que vai morar para NYC, achei que era apenas adequado ser escrito em português. 


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Acordar e ver New Jersey

07:29 0 Comments

Passou exactamente uma semana.

Ainda nem tinha embarcado e já experimentei aquela simpatia americana da qual não consigo senão desconfiar. É perfeitamente normal e aceitável um desconhecido qualquer que se senta ao teu lado ter curiosidade e perguntar-te todo o tipo de questões mais ou menos pessoais como se é a primeira vez que visitas a cidade, que vais para lá fazer, se vais sozinha. Nem é estranho o mesmo desconhecido, neste caso um negro vestido de fato de treino, sapatilhas nike, chapéu e óculos de sol (e já vão entender porque a descrição é importante para poderem imaginar esta situação da maneira mais apropriada), reagir às tuas respostas com uma exclamação efusiva "you go girl!" e estender a mão para uma palmada de celebração, vulgo high five. Mas o estranho é que o desconhecido fazia parte de uma banda de jazz, e parecia não ser nenhum desconhecido porque alguém gritou pelo seu nome de longe, reclamou ser fã, e ainda aproveitou para impôr a sua presença e conversar com todos os membros da banda. Ainda ouvi uma piada sobre o que significa TAP (algo como trapped at airplane ou assim), um elogio aos meus óculos e algumas perguntas confusas da fã que achava que eu estava com a banda.

Uma coisa que sempre me espantou de todas as vezes que aterrei em solo americano é a maneira como dão ênfase à sinalética com pessoas a gritar ordens, sempre a mesma ordem com intervalos curtos, como uma gravação "american citizens this way" "american citizens this way" "american citizens this way". E se tentares fazer alguma pergunta repetem-te a mesma ordem a gritar. Mas gravações não vestem tão bem o uniforme do aeroporto. 
Apanhei um shuttle para a residência e por via das probabilidades acabei por o partilhar com uns portugueses, entre as quais duas adolescentes lisboetas que não deixaram de comentar a sorte que eu tinha de vir morar para o "paraíso". Dada a quantidade de carros, pessoas, ruído, luzes, o paraíso parecia bem concorrido. Era o final da tarde e os neons sempre me fascinaram, portanto estive a viagem toda meia hipnotizada com aquela violência luminosa. 



Entro no meu quarto e algo me chama a atenção. Tenho uma inquilina. Despacha-se a sair, pede desculpa, estava ali como convidada. Mas uma convidada com o seu tapete, candeeiro, mantinha. Bem instalada. De qualquer maneira poderíamos ter ficado ali as duas. Ou até três. O quarto era enorme. E claro, a vista. Apesar de todos os americanos comentarem contigo que este não é o melhor dos bairros, o campus médico fica aqui no meio de um bairro latino. E por latino, não falamos bem do nosso caso, latino europeu, mas latino da américa do sul. Em todo o caso, parece-me nice enough. 


Estava habituada a correr em Braga ao pé do rio e estava terrivelmente preocupada com o ter que começar a correr no meio da cidade aqui, ou ter que apanhar metro até ao Central Park. Mas, agradavelmente, tenho mesmo aqui ao pé de casa duas opções: posso atravessar a ponte que vejo da minha janela a correr e ir até New Jersey ou posso ir para o Hudson River Greenway, que percorre toda a margem do rio.
Apesar do aspecto natural, não deixas de ver todos os prédios por cima das árvores, de ouvir o barulho do trânsito e, além disso, há tanta gente a correr ou a andar de bicicleta que quase há fila. Mas não deixa de ser melhor do que esperava.

O meu primeiro dia no laboratório foi uma surpresa. Começou a chover do tecto. Estamos no 12º piso e algures no 14º havia um leak e começou a cair tanta água pelo tecto que parecia que chovia. E que não vos espante, não há 13º piso. Sendo este um edifício médico, não existe um 13º piso porque ninguém quereria ficar lá, por causa da superstição. Todos se apressaram a dizer-me que isto não acontecia todos os dias, não vá eu pensar que vim parar a um laboratório terceiro mundista. 
Uma coisa igualmente engraçada e nojenta é que, estando nós no meio do campus médico, vê-se na rua imensa gente de scrubs, bata, ou até a minha combinação favorita, scrubs e bata e estetoscópio. Suponho que se vais só atravessar a rua para ir do hospital para as aulas não seja problemático, mas ir ao starbucks já me parece um bocado nojento. Pior ainda é ir no metro de scrubs, e isto não é raro.
Todos os labs têm a sua happy hour na sexta, sendo que o meu decide chamar-lhe beer time, para serem diferentes. E descrevem-na como: depois dos chefes saírem, juntamo-nos e compramos cervejas e ficamos a beber e a comer e a destruir o laboratório. Bem, um dos meus colegas tinha estado na Ucrânia e trouxe vodka de mel e pimenta. Aconselho todos a provarem.

Na sexta fui sair. Fui a um hotel, cujo lobby se transformou em discoteca. Nada era removido por precaução. Tapetes, candeeiros de pé, vasos, sofás. as pessoas dançavam em cima dos sofás. A música começou terrível (a inclinar para o rap), mas foi melhorando para clássicos americanos. A notar a abordagem americana. É terrível. A primeira vez que me abordaram, começaram logo por estender a mão, dizer "Hi" e apresentar-se. Fiquei terrivelmente confusa e assustada, ainda olhei para trás para ver se se tinha enganado na pessoa, olhei para os meus amigos para ver se era conhecido e só depois é que percebi. Falam-te logo dos seus sonhos e ambições de vida, elogiam-te sem motivo aparente (ouvi muitas vezes que sou adorable e que devo ser extremamente smart por estar em columbia) e depois oferecem-se para te pagar uma bebida ou para te levar ao seu sítio preferido da cidade. É difícil terminar a conversa educadamente, mas um não quero uma bebida, obrigada costuma ajudar. Ouvi coisas tão disparatadas como "I'm sorry if I seem overconfident, but it is my latino side". Não consegues evitar rir. Ainda para cima quando és tu mais latina que ele e falas melhor espanhol. Reparei que aqui todos se orgulham terrivelmente das suas origens, por mais longínquas e afastadas que sejam. 

No sábado aconteceu-me uma das minhas, como não podia deixar de ser. Fui às compras a um supermercado e tive que apanhar o metro, já que as coisas aqui perto são todas caríssimas. O metro aos fins de semana altera-se e tive que sair umas paragens acima. A questão é que a voltar do supermercado, toda carregada, me devo ter enganado na rua. Começo a reparar que sou a única branca ali no meio. Vejo nomes de lojas como "hair braiding saloon" e "african market". Começo a ficar desconfiada. Até que começa a aparecer o nome "harlem" nas lojas e tenho a minha confirmação. Foi uma caminhada engraçada. Nada perigosa, mas não a repetiria de noite.

Domingo fui tomar brunch. É um costume ao qual te habituas facilmente. Comi umas french toasts de maçã, canela e chocolate branco e bebi uma limonada de menta (que se apelidava pelo nome fancy de yellow granita). Fui dar um bonito passeio por todos os edifícios emblemáticos da cidade, mas decidi deixar o turismo hard core para outra altura. Afinal de contas, ainda vou ficar aqui dois anos.

Passou exactamente uma semana, mas parece que foi mais.

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