Cold dust girl

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Nada de especial tem acontecido. Parece impossível nesta cidade. Falhei um evento grátis da vice e m parceria com a tequila Espolon, que já tinha tudo para correr bem sem sequer precisar de se chamar 'wild alley party'. Também tive pena (apenas ultrapassada por preguiça) de não ter ido a Brooklyn ver o primeiro festival of light (vão aqui para verem algumas das fotos que podia ter sido eu a tirar). 
Se o que não faltam são opções, aquilo que fica ajustado é o dinheiro. E não é só a opinião de alguém que imigrou vinda do epicentro da crise económica. É tudo exageradamente caro neste estado, menos as calças levi's. E infelizmente o meu paladar requintado ainda não tolera ganga. Também parece não tolerar muito bem a fraca qualidade dos produtos daqui. Fruta e vegetais de cores berrantes e sem quaisquer imperfeições aparentes, que a pouco sabe, é difícil de descobrir quando se estraga (diria que os perecíveis de Nova Iorque não estão sujeitos às regras do tempo como os alimentos que nos chegam, pobres mortais dos outros cantos do mundo; dica para todos que procuram o elixir da juventude: encharcar-se em conservantes para ninguém saber dizer a idade, corantes porque quanto mais vivas as cores, melhor e colocar uma etiqueta de orgânico, valoriza sempre) e é cobrada a preço de ouro. Todos os meus colegas com familiares ou amigos noutro estado admitiram assaltar as despensas quando iam para lá, sem vergonha, e só não trazer papel higiénico porque é difícil de transportar. Aqui podemos usar de uma maneira mais literal a expressão limpar o rabo a dinheiro (também comemos dinheiro, mas a mais próxima da realidade ainda é a bebemos dinheiro). Vou abster-me de exemplificar com cifras exactas, para não ferir susceptibilidades nem impressionar os mais sensíveis. Não se preocupem, não ando a passar fome, como a minha mãe pode testemunhar, ou até a minha avó, que em Portugal nunca me achou tão bonita (a qualidade da imagem do skype parece favorecer-me). 
E apesar do preço exorbitante da cerveja, na semana passada tivemos beer friday dois dias. Na terça-feira, dia de eleições aqui (sei que há quem desse lado esteja extremamente contente com a reeleição do governador Andrew M. Cuomo para NY), alguém se lembrou de ir buscar os restos da última sexta à câmara fria (sim, guardamos as cervejas com o PBS e o meio de cultura) e de os pôr na salinha comum, numa tina em gelo. Nenhuma das poucas pessoas que ainda estava a trabalhar custou muito a ser convencida a ficar para uma cerveja. Fomos surpreendidos pelo meu chefe, espantado, que nos pergunta se é sexta-feira, e ainda fica uma boa meia hora na conversa connosco.
Além da happy hour, também costumamos celebrar os aniversários de cada um com o cake time, a melhor e mais hipercalórica altura do nosso dia. Já provei vários tipos sumptuosos de bolos: normalmente é o chefe de grupo que compra; como exemplo um bolo de crêpe de uma qualquer pastelaria francesa (cuidado, para todos os que já tiveram desentendimentos por culpa da pronunciação, :cof cof: Miguel :cof cof:, é crêpe não crap). No meu grupo em específico há a piada de que o nosso chefe é tão forreta que é capaz de fazer brownies em casa para poupar dinheiro. Tenho apenas a dizer que chamar forreta ao meu chefe só pode ser aceitável tendo em conta algum padrão de um contexto de investigação sem constrangimentos económicos que nunca conheci.
No dia 5 (remember, remember...), um dos meus colegas decidiu juntar os alunos numa noite de 'games and mischief' em honra do seu terrorista católico extremista preferido. Fui introduzida a killer bunnies e ao cards against humanity. Recomendo vivamente. Como extra, fica um exemplo da banda sonora da noite (aqui), que sugiro passarmos a usar, eventualmente, se e quando nos voltarmos a reunir uma noite destas, talvez nas férias de Natal.
Entretanto as temperaturas começam a baixar por aqui. Quem me conhece bem sabe que tolero mal o frio. Aliás a maior preocupação da minha mãe antes de vir para aqui não era o ser perigoso, o vir sozinha, o dinheiro, nem nada disso, era apenas o frio "Ó minha filha, como vais tu aguentar aquele frio? E quando nevar? Vais ter que comprar um casaco quente! ...".



Ainda me perguntaram no outro dia se estava a apreciar este "unusually warm winter". Primeiro pensei que era ironia e sorri, até me aperceber que, infelizmente, era muito sério.
Para acabar, uma curiosidade. Descobri recentemente aquele que deve ser sem sombra de dúvida o pior trabalho do mundo. Já vos falei do metro de NY. Só a ideia de trabalhar no metro já é má. Na estação daqui perto passam dois comboios. Para aceder a um deles é preciso descer nuns elevadores. Num desses elevadores existe uma espécie de escritório onde está uma pessoa cujo trabalho é simplesmente carregar nos botões. Entre a superfície e o andar do comboio. Só isto. E como nestas coisas, é preciso ver para crer, deixo umas fotos. Primeiro achei que era uma pessoa louca. Fiquei convencida disso. E achei que a camisa da MTA era porque seria uma antiga funcionária do metro que tinha sido despedida. Até que mudou de pessoa. Simplesmente inacreditável. Além disso existem 4 elevadores e só um deles tem este "funcionário".



AndreiaB

I became insane, with long intervals of horrible sanity.

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