[it wasn't] all that bad

17:05 1 Comments

Transbordo de felicidade por estar de volta, de tal maneira que a simples tarefa de escrever um pequeno texto sobre o meu regresso à metrópole me enche de prazer. Vejo-me, inclusivé, obrigada a usar de toda a minha contenção, para não correr o risco de pecar por exagero e alienar todos os que esperam uma leitura leve, carregada de acontecimentos cómicos e momentos inoportunos derivados da minha ineptidão social. Ninguém aprecia uma gabarola.
Fui embora contrariada. Já estava contrariada no aeroporto, ainda em terras lusas, enquanto imaginava como iria fazer passar o tempo numa viagem tão longa de dia (a guiar-me por experiências passadas a seleção cinematográfica da TAP deixa bastante a desejar). Muitos devem ter reparado na situação caricata de uma miúda na fila da segurança do aeroporto que estava com um ar carrancudo sempre que olhava em frente e desatava a rir quando se virava para trás e olhava na direcção de três vultos que agitavam os braços efusivamente. Sempre que caía na tentação de olhar para trás para confirmar se ainda lá estavam, era recebida com outro aceno efusivo.
Todos os meus receios para o vôo foram confirmados. Antes de mais, estou a chegar ao meu lugar quase na traseira do avião e uma senhora de idade pergunta se não me importava de trocar com o marido dela que está uns dez lugares mais à frente. Experimentem remar contra a maré de passageiros furiosos que se dirigem pelo corredor estreito na direção dos seus lugares para se sentarem o mais rapidamente possível, não há tempo a perder para interrupções, nem para as senhoras que demoram a tirar os casacos e a guardar as malas, nem muito menos para uma miúda que parece que perdeu o seu lugar, que imbecilidade! Felizmente o meu novo companheiro ofereceu-se para me ajudar a colocar a mala em cima, o que agradeci, tendo em conta que à vinda quase fazia um torcicolo a tentar arrumar o casaco. As primeiras quatro horas não passaram assim tão mal. Apanhei um filme de animação,  passdo no México, uma mistura entre a noiva cadáver e aquele filme de mariachis do Antonio Banderas, com um vilão que parecia o Rasputin e uns quantos toureiros pelo meio. Depois disse mal de todos os meus santinhos por já ter visto o Monsters University. Entrei então numa fase em que mudava de canal erraticamente e olhava para o relógio, exatamente de cinco em cinco minutos, com uma precisão que a frustração do momento não me deixou apreciar devidamente. O que me salvou da minha rotina de desespero foi o meu colega do lado, que trabalhava em Baltimore e estava tão aborrecido como eu. Começamos a conversar e depressa o tema recaiu sobre tudo aquilo que odiávamos dos Estados Unidos e, em particular, de Nova Iorque. Finalmente chegamos e ele despediu-se e passou-me um cartão de visita. Sim, um cartão de visita. Senti-me num filme.

Fui brindada com uma brisa agradável de -10ºC. E neve. Logo no primeiro dia de trabalho.






  
E estas duas últimas fotos devem ser uma agradável novidade (imagino muitos a pensar: 'mais uma foto daquela estúpida ponte, e corto os pulsos!'). Bem, não tentando desviar o assunto do facto mais relevante: muitas fotos do nascer do sol (algumas incriminatoriamente tiradas desde o local de trabalho). Decidi abusar do meu jet lag e aproveitar para ir trabalhar muito cedo, deixando assim de correr o risco de ter que lutar ferozmente com os meus colegas de trabalho pelo uso do microscópio e poder ver as lâminas e quantificar em paz e sossego. Descobri que sou muito mais produtiva a estas horas e que acabo por trabalhar mais horas ao dia sem me aperceber. Este comportamento aparentemente lunático tem uma explicação racional por detrás. Na próxima quarta-feira apresento journal club e na quarta seguinte o meu progress report. Preciso de dados. Mesmo que aparentemente os meus dados estejam embriagados. A minha colega de laboratório disse no outro dia que a partir do momento em que passou a ver o seu trabalho como ser paga para errar, deixou de se sentir tão frustrada com os resultados. Infelizmente, o nosso chefe não é pago a não ser que acerte...
Bem, a minha rotina excitante de acordar, trabalhar, cozinhar, dormir deverá acabar em breve. 
 

AndreiaB

I became insane, with long intervals of horrible sanity.

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