As luzes de Jersey

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Há coisas às quais te vais habituando, como a usar um abre latas, ou aprender a usar portas giratórias (sem atropelar pessoas nem seres atropelada). Há outras às quais te habituas depressa e num espaço de quinze dias consegues esquecer-te que os carros devem parar para tu passares numa passadeira, quando não há semáforos. Outras vais tomando como normais, como o tamanho excessivo dos carros, dos prédios, das pessoas. Outras ainda nem reparas que estão diferentes, como o barulho contínuo do trânsito que até de noite te acompanha. Há algumas que requerem um esforço maior, como fazer a conversão de km para milhas (correr 4 milhas é pouco), ou de ºF para ºC (se puseres o forno a 200 ºF és capaz de pensar que está avariado e até de te admirares com a temperatura máxima que pode atingir). Ainda assim, quando estás na rua e passa por ti um carro de janelas abertas e música nas alturas (geralmente rap, sim, voltamos ao mesmo), lembras-te sempre onde estás. 

Aqui nos Estados Unidos sabem dar espetáculo. É sempre divertido quando estás numa sala de espera, toca um alarme de incêndio e te dizem "pode ser um exercício, pode ser a sério. vamos seguir os procedimentos e fechar esta porta. Se for preciso evacuar, não se preocupem, vimos avisar.". Felizmente és atendida. Vais embora e entras no elevador e está um estranho cheiro muito intenso a torradas queimadas. Vem contigo um bombeiro aparentemente calmo. Sais no hall de entrada e há mais cinco colegas enormes e equipados. Ficas à espera de ver labaredas a saírem de alguma janela lá em cima ou de ouvir que houve alguma fuga de gás. Bem, tanto espectáculo e afinal foi alguém a cozinhar algures no quarto piso.
No outro dia no metro alguém cantava. Como poderia acontecer na Europa. A qualidade da atuação não excedia de modo algum as expectativas para uma atuação de metro. Mas alguém que passava juntou-se a dançar. As pessoas começaram a filmar. Mas não filmavam o artista original, filmavam a pessoa que se juntou a dançar. E no final todos aplaudiam efusivamente. Os americanos são um bom público.
O mesmo se aplica aos estádios. Fui ver os New York red bulls. E antes de começarem a criticar efusivamente a minha decisão de ver soccer, defendo-me com um pedaço de sabedoria popular: a cavalo dado não se olha o dente. Além de saberem dar espetáculo, os americanos sabem capitalizar. Antes de entrar no estádio já havia oportunidade para comprar desde bebidas e comida a propaganda da equipa e até um miúdo dj na tenda red bull. Dentro do estádio estava tudo repleto de barraquinhas de comida e bebida que se repetiam incontáveis vezes a toda a volta, nos dois andares. O estádio em si, encheu. O campo era mais pequeno que os nossos. Os adeptos estavam exultantes e gritavam. Gritavam sempre, em uníssono. Aplaudiam a equipa em todos os passes e cortes, até ao ridículo de eu própria perceber que aquela jogada não iria levar a lado nenhum. E estavam sempre a sair de mãos vazias e voltar com o seu cachorro, a sua cerveja, o seu hamburguer, as suas pipocas, os seus churros, o seu gelado, o seu red bull, como não poderia deixar de ser, não fosse este o red bull arena. Não havia nenhum comentador a relatar o jogo. Mas também não havia muito silêncio. Antes do jogo começar, reparei que todos se levantavam com reverência. Foi apresentada uma senhora, que cantou o hino dos EUA, e todos se mantiveram na sua posição respeituosa e patriótica e até alguns se atreveram mesmo a timidamente acompanhar. Curiosamente, quando o Dempsey entrou em jogo pela equipa adversária (os Seatle Sounders), muitos adeptos dos red bulls começaram a entoar "USA! USA! USA!". Isto só até ele marcar o primeiro e único golo dos sounders. Como não podia deixar de ser, houve entretenimento no intervalo. Os americanos esperam um bom espetáculo também. 





No outro dia juntamo-nos as quatro colegas de casa para jantar e falarmos sobre algumas questões práticas como pagar contas e comprar produtos comuns e outras não tão práticas como definir um calendário de limpezas. Uma delas ficou de encomendar pizza. E, ainda a propósito da nossa conversa de tamanho, foi isto que apareceu, juntamente com uns croissants de alho:


Mas segundo parece esta é a exceção e não a regra. A exceção das pizzas.
Não é de admirar então que quando dizes que os nosso campos de futebol são bastante maiores eles respondam com um profundamente sentido "oh my, that's embarrassing". Apenas equiparável ao igualmente profundo sentimento de desprezo e superioridade para com New Jersey onde ficava o estádio.

Os Metronomy foram atuar numa salinha pequena em Brooklyn, e os $25 gritavam para comparecer. O facto de ser a quinta vez que atuavam em NYC este ano e de o dizerem abertamente tira toda a mística, por mais que tentem emendar que este é definitivamente o sítio mais bonito.  Brooklyn tem todo o encanto de uma cidade pequena, com edifícios baixos e até casinhas e todo o movimento que pertence por direito a qualquer parte de NY. 



Ainda não vos falei do metro. Talvez porque é exactamente igual aos filmes. Mas com uma percentagem maior de pessoas cuja sanidade mental se pode questionar. Talvez porque o adjectivaria como pequeno, quente, velho e porco. E podendo parecer o contrário, não vim para aqui para criticar tudo. Talvez porque adormeço quase sempre. A maior diferença para o metro de outras cidades em que andei é que balança com uma cadência perfeitamente propícia a embalar. Este problema afeta-me a mim e a uma maioria asiática, a qualquer hora do dia, mas torna-se generalizado a partir de uma certa hora da noite.



Este é um sinal que gosto particularmente. À primeira vista parecem demasiados acidentes para um só ano. Depois questionas-te se realmente é preciso um sinal destes. Não será algo assim que demoverá aqueles que tencionarem suicidar-se. Se tiveres coragem, podes perguntar a alguém. Parece que há pessoas que se inclinam a espreitar se o metro vem, tal qual o boneco vermelho da imagem. 
E isto leva-me à questão da sinalética americana. Há sinais em todo o lado, para tudo. Nunca estive em nenhum país tão bem sinalizado. Vou começar a coleccionar algumas fotos para vos mostrar. Para já, um oldie que encontrei enquanto aproveitava uma happy hour (sim, é muito cedo, e sim, bebi um frozen Harrisons).


Para terminar, e passando por sobre o assunto dos dates, que prefiro que fique para outra altura em que tenha uma análise mais fundamentada para partilhar, lamento desiludir quem esperava que eu fosse abordada enquanto lavava a roupa como nos filmes. Aqui nas torres temos uma máquina de lavar roupa e uma secadora por piso. E, tal como tudo na América, está capitalizado. Tudo tem um custo. Até o olá do bartender.

E perdoem-me por continuar a insistir com New Jersey. 

AndreiaB

I became insane, with long intervals of horrible sanity.

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