[it wasn't] all that bad

Transbordo de felicidade por estar de volta, de tal maneira que a simples tarefa de escrever um pequeno texto sobre o meu regresso à metrópole me enche de prazer. Vejo-me, inclusivé, obrigada a usar de toda a minha contenção, para não correr o risco de pecar por exagero e alienar todos os que esperam uma leitura leve, carregada de acontecimentos cómicos e momentos inoportunos derivados da minha ineptidão social. Ninguém aprecia uma gabarola.
Fui embora contrariada. Já estava contrariada no aeroporto, ainda em terras lusas, enquanto imaginava como iria fazer passar o tempo numa viagem tão longa de dia (a guiar-me por experiências passadas a seleção cinematográfica da TAP deixa bastante a desejar). Muitos devem ter reparado na situação caricata de uma miúda na fila da segurança do aeroporto que estava com um ar carrancudo sempre que olhava em frente e desatava a rir quando se virava para trás e olhava na direcção de três vultos que agitavam os braços efusivamente. Sempre que caía na tentação de olhar para trás para confirmar se ainda lá estavam, era recebida com outro aceno efusivo.
Todos os meus receios para o vôo foram confirmados. Antes de mais, estou a chegar ao meu lugar quase na traseira do avião e uma senhora de idade pergunta se não me importava de trocar com o marido dela que está uns dez lugares mais à frente. Experimentem remar contra a maré de passageiros furiosos que se dirigem pelo corredor estreito na direção dos seus lugares para se sentarem o mais rapidamente possível, não há tempo a perder para interrupções, nem para as senhoras que demoram a tirar os casacos e a guardar as malas, nem muito menos para uma miúda que parece que perdeu o seu lugar, que imbecilidade! Felizmente o meu novo companheiro ofereceu-se para me ajudar a colocar a mala em cima, o que agradeci, tendo em conta que à vinda quase fazia um torcicolo a tentar arrumar o casaco. As primeiras quatro horas não passaram assim tão mal. Apanhei um filme de animação,  passdo no México, uma mistura entre a noiva cadáver e aquele filme de mariachis do Antonio Banderas, com um vilão que parecia o Rasputin e uns quantos toureiros pelo meio. Depois disse mal de todos os meus santinhos por já ter visto o Monsters University. Entrei então numa fase em que mudava de canal erraticamente e olhava para o relógio, exatamente de cinco em cinco minutos, com uma precisão que a frustração do momento não me deixou apreciar devidamente. O que me salvou da minha rotina de desespero foi o meu colega do lado, que trabalhava em Baltimore e estava tão aborrecido como eu. Começamos a conversar e depressa o tema recaiu sobre tudo aquilo que odiávamos dos Estados Unidos e, em particular, de Nova Iorque. Finalmente chegamos e ele despediu-se e passou-me um cartão de visita. Sim, um cartão de visita. Senti-me num filme.

Fui brindada com uma brisa agradável de -10ºC. E neve. Logo no primeiro dia de trabalho.






  
E estas duas últimas fotos devem ser uma agradável novidade (imagino muitos a pensar: 'mais uma foto daquela estúpida ponte, e corto os pulsos!'). Bem, não tentando desviar o assunto do facto mais relevante: muitas fotos do nascer do sol (algumas incriminatoriamente tiradas desde o local de trabalho). Decidi abusar do meu jet lag e aproveitar para ir trabalhar muito cedo, deixando assim de correr o risco de ter que lutar ferozmente com os meus colegas de trabalho pelo uso do microscópio e poder ver as lâminas e quantificar em paz e sossego. Descobri que sou muito mais produtiva a estas horas e que acabo por trabalhar mais horas ao dia sem me aperceber. Este comportamento aparentemente lunático tem uma explicação racional por detrás. Na próxima quarta-feira apresento journal club e na quarta seguinte o meu progress report. Preciso de dados. Mesmo que aparentemente os meus dados estejam embriagados. A minha colega de laboratório disse no outro dia que a partir do momento em que passou a ver o seu trabalho como ser paga para errar, deixou de se sentir tão frustrada com os resultados. Infelizmente, o nosso chefe não é pago a não ser que acerte...
Bem, a minha rotina excitante de acordar, trabalhar, cozinhar, dormir deverá acabar em breve. 
 

Wait and see

Vou começar pelo mais importante, sobrevivi à tempestade para comer o perú. Na realidade a tempestade foi mais falada do que vivida. Apenas nevou um bocado, uns pequenos flocos raquíticos que derretiam ainda antes de cair no chão e eram mais incómodos que bonitos. Ainda assim muitos amigos americanos se questionaram se eu alguma vez tinha visto neve assim. Claro que no nosso sunny Portugal não neva! E para quem não conhece, vale a pena ler este artigo que resume e satiriza estes preconceitos -  Sunny Portugal. Apesar de que todas estas ideias das gentes daqui são ideias sobre os nossos vizinhos peninsulares. E, na falta de informação, em Portugal deve ser igual, é tão pequeno e tão perto. Ao menos os que me perguntam se falo espanhol são apenas uma minoria. 
Mas a real preocupação com a tempestade era a possibilidade de estragar os planos do feriado mais esperado do ano, o thanksgiving. E a euforia foi tanta, que nunca na minha cozinha houve tantos papelinhos a oferecer ora chocolates, ora queijo, ora mousse, e a desejar um bom feriado a todas as roomies. Quarta à noite fiquei sozinha e ao menos posso ter a música nas alturas sem me preocupar o dia inteiro. Fui convidada pela minha colega de laboratório para ir jantar a casa dela, com a família da mulher, que vinham do sul. Não éramos muitos, e um único peito do perú chegou para nos alimentar e ainda sobrou. Havia o mítico perú recheado, enorme e gordo, bem cheiroso e barrado de manteiga. Aprendi que como é uma ave tão seca fica no dia anterior dentro de uma bacia com água salgada e precisa de ser barrado com manteiga por todo o lado, incluíndo por baixo e também por cima da pele. Havia ainda puré de batata, souflé de batata doce com marshmallows, uns legumes salteados, o famoso stuffing - recheio do perú, macarrões com queijo, ainda mais uns legumes, pão doce, e umas quantas sobremesas, além de umas entradas, das quais se destaca o brie com mapple syrup (estava a tentar por teimosia minha traduzir tudo para o português, mas não sei se xarope de ácer não será demasiado imcompreensível). Apesar de tudo, não sei se mal habituada pelo exagero familiar ou enganada por dividirmos habitualmente a comida em várias travessas, pareceu-me que as nossas festas têm mais quantidade. E questiono-me se batata doce com marshmallows e o cheesecake não me pareceram tradicionais por não estar habituada ou porque o bacalhau cozido e o bolo rei têm um ar mais rústico. Comemos pelas cinco da tarde e disseram-me que é normal neste dia só fazerem uma grande refeição, enquanto se vê futebol americano na televisão. Assisti ao halftime show, com o Pitbull e as cheerleaders dos cowboys de Dallas, que pelos vistos são as mais bonitas de todos os Estados Unidos, ou isso ou as mais despidas. Pareceu-me estranhamente familiar aos programas da manhã portugueses, com mais bailarinas, mais gente a assistir e a dançar, mas igual de bom gosto. Tinha feito leite creme e expliquei que era uma sobremesa típica portuguesa. Perguntaram-me se era parecida com o crème brûlée françês e se eu queimava o açúcar com um maçarico. Disse que não, que usavamos um ferro. Suponho que devem ter pensado que usei um ferro de engomar, porque sorriram, comentaram que era muito inventivo e fizeram um ar confuso quando disse que a minha avó também fazia assim. Mas quando me apercebi já era demasiado tarde para corrigir. Bem, fiquem avisados que algures por aí há americanos que pensam que em Portugal usamos o ferro da roupa nas nossas sobremesas (talvez por não termos dinheiro... é a crise...).
No dia seguinte, foi a intimidante black friday, onde há descontos em quase todas as lojas e as pessoas aproveitam para ir fazer compras, com um nível de agressividade proporcional ao desconto do produto. Fui trabalhar e nunca estive tão sossegada desde Setembro. Estava sol, finalmente descobri qual o piso por onde posso ir para a ponte que une o edifício contiguo ao meu com outro edifício do campus hospitalar do outro lado da rua, e de onde há uma vista bonita, e trabalhei sozinha e feliz. Já no dia anterior tinha notado uma diferença na quantidade de pessoas a andar pela rua, e mesmo no metro, onde vi muitas mais famílias com crianças pequenas, casais idosos super arranjados e no geral melhor aspecto que a mediana deste meio de transporte nesta zona específica da cidade. 


Aproveitei ainda para caminhar/correr até à ponte com a câmara atrás para tirar umas fotos do pôr do sol (e tive mesmo que correr para não o perder). Podem, pela primeira vez, ver a torre onde moro e as suas duas gémeas, do outro lado agora. Finalmente umas vistas de NY e não de Jersey.













Como bónus, passei por acaso por este videoclip (aqui) e reparei que foi filmado em NYC e mostra um bocado o lado não tão glamoroso da cidade (e o metro, reparem bem no metro!), e chega até a dar uma ligeira sensação de falta de espaço. Também gosto muito da música e o videoclip foi filmado com os pais dos artistas a fazerem a vida dos filhos (reparem quando estão a  fingir que tocam ou cantam).
Entretanto decidi que já passou esta época festiva e então, que venha a próxima! E fui comprar decorações de Natal e preparar a minha casa, vá, o meu quarto para acolher a alegria. Já tinha anteriormente decidido encher o meu quarto de fotografias e achei que a decoração natalícia ia completar. Pelo sim pelo não, fui ainda comprar vinho do porto, caso as duas primeiras opções falhassem.





 Igualmente terapêutico é aproveitar o tempo livre e a temperatura amena, ou, pelo menos, não glacial, do meio dia para ir dar uma corrida pela margem do rio. Descobri recentemente que se correr mais uns três kilometros, consigo chegar a um pequeno parque bastante bonito e geralmente pouco frequentado. E se não me virar para trás e estiver com auriculares quase me consigo abstrair de que continuo mesmo no meio da confusão (directamente atrás do parque há um supermercado com um parque de estacionamento grande e muito movimento de carros e pessoas). Além disso é impossível ficar indiferente quando enquanto corres assustas um esquilo, que deixa cair a sua bolota e rapidamente baixa a cauda para tapar a cabeça, resumindo a sua actividade quando repara que não és um perigo. Ou quando vês que um esquilo olha para ti, repara que corres na sua direcção e mergulha no meio da folhagem, ficando só com a cauda peluda de fora. Acho que já por várias vezes me ri sozinha, sendo que nunca estás verdadeiramente sozinha aqui, nem a correr, mas também, aqui vê-se de tudo e já ninguém liga a nada. Já vi várias pessoas a correr com o cão atado com uma trela. Já vi um homem a correr de fato de treino enquanto empurra um carrinho com um bebé lá dentro. Não sei se esta cidade deixa as pessoas loucas, se os loucos decidem vir para aqui, ou se apenas afecta todas as pessoas com alguma predisposição, que seriam sãs noutra cidade qualquer. Nunca vi tanta gente com comportamentos tão estranhos como aqui. Nem com todo o tipo de doenças mentais que muitas vezes nem consigo identificar, alguns talvez sobre o efeito de drogas. Alguns exactamente como nos filmes, aqueles em que o actor se esforça demasiado para ser cómico e parece falso. Se fosse em Braga diria que estariam a fingir. 



E já só faltam três semanas. Espero ver-vos não tarda nada e ouvir novidades da vossa parte, porque o meu tema está praticamente esgotado com tanto que escrevo. Acho que o próximo passo para mim é comprar um calendário para ir riscando os dias.

Dark and Stormy

Se falei anteriormente em começar a ficar frio, foi porque, pobre incauta, não sabia o que me esperava. Suponho que já todos tenham visto as notícias da neve aqui no estado. Bem, eu ainda não vi neve na cidade, mas certamente as temperaturas estão muito mais baixas. Agora andamos pelos graus negativos com uma temperatura máxima ainda negativa ou muito próxima do zero. Felizmente só tenho que caminhar 5 minutos de casa até ao trabalho. Mas nesses cinco minutos já há tempo para apanhar com o vento gelado que entra por todo o lado e temer que as orelhas caiam. Parar no único semáforo do caminho é uma tortura e consigo reparar que existe uma relação linear entre o frio e o número de pessoas que se atrevem a arriscar a vida atravessando no vermelho. E já vi na rua pessoas com casacos até aos pés, gorros e um cachecol embrulhado de tal maneira que cobre pescoço, queixo e quase nariz, com o vento a fazer voar as pontas soltas com força. Instantâneamente me fazem lembrar 'Um conto de natal' e sinto vontade de uma lareira e uma camisola grossa com uma rena. Os interiores são tão aquecidos que é preciso tirar de imediato casacos, camisolas e acessórios, correndo risco de asfixia. Se logo a seguir experimentar tocar no casaco está frio como se em vez de o ter vestido, o tivesse acabado de tirar do frigorífico. Apenas tenho a acrescentar que quando ouves as pessoas no elevador a falarem de ter que sair da cidade antes de determinada hora por causa da tempestade que aí vem, e recebes ainda por cima vários emails institucionais com medidas de prevenção e a referirem a equipa de emergência (Emergency Management Operations Team), começas a ficar ligeiramente preocupada. Essa preocupação aumenta um bocado quando um dos conselhos é fechar bem todas as janelas e a janela do teu quarto tem uma folga enorme que a equipa de manutenção do edifício tapou com esponja... E depois lembras-te que moras no vigésimo sexto andar, virada para o rio. Suponho que seja tudo tão americanamente alarmista como os cartazes e emails sobre o ébola que desde este setembro andam a proliferar.







Um destes dias suportei o frio para ir comer sushi e sopa de miso (isto ainda antes de ter comprado todos os ingredientes para fazer sopa de miso caseira durante um período que me apercebi depois que será aproximadamente igual a dois anos, o que, tendo em conta que já me fartei esta semana da sopa, se poderá estender...) e passear pelo central park. O frio impediu-me de andar calmamente e apreciar a paisagem repleta de pessoas ou o som das conversas animadas e dos passos na folhagem. Nem no central park há muito sossego. Não admira que até os patos desta cidade sejam sociais e estejam habituados à confusão, sem se deixarem intimidar pela proximidade das pessoas.
Já perfeitamente preparada para o frio, decidi enfrentar agora a confusão para ir espreitar as luzes de natal. Confesso que estava à espera de ficar mais impressionada. Mas especulo que mais perto do natal poderei apreciar a beleza e o poder de uma decoração de natal como deve ter uma cidade onde nunca está escuro, nem nunca tens silêncio.





Mas a maior notícia que tenho é que se aproxima a época festiva preferida de todos os americanos, o thanksgiving e já tive um convite para apreciar uma autêntica ceia acompanhada de alguns sotaques fortes do sul (e mais comida do que aquela que alguma vez vi, fui avisada. Irei comparar com as nossas festas familiares, especialmente aquelas em que a minha tia decide que é essencial haver uma sobremesa por cabeça.). Mas no laboratório a maior felicidade é não haver lab meeting esta semana em honra da ocasião festiva. Já na semana passada os chefes foram para um congresso, e como bons subordinados, fomos todos ao cinema na quarta de manhã. Escusado será dizer que saímos da sala de cinema a sentir que realmente o lab meeting é a melhor maneira de passar as quartas de manhã. Principalmente se for a tua vez de apresentar. 
Espero dar notícias ainda esta semana, se o tempo ajudar e não tiver padecido de alguma doença causada por ingestão alimentar excessiva.

Cold dust girl


Nada de especial tem acontecido. Parece impossível nesta cidade. Falhei um evento grátis da vice e m parceria com a tequila Espolon, que já tinha tudo para correr bem sem sequer precisar de se chamar 'wild alley party'. Também tive pena (apenas ultrapassada por preguiça) de não ter ido a Brooklyn ver o primeiro festival of light (vão aqui para verem algumas das fotos que podia ter sido eu a tirar). 
Se o que não faltam são opções, aquilo que fica ajustado é o dinheiro. E não é só a opinião de alguém que imigrou vinda do epicentro da crise económica. É tudo exageradamente caro neste estado, menos as calças levi's. E infelizmente o meu paladar requintado ainda não tolera ganga. Também parece não tolerar muito bem a fraca qualidade dos produtos daqui. Fruta e vegetais de cores berrantes e sem quaisquer imperfeições aparentes, que a pouco sabe, é difícil de descobrir quando se estraga (diria que os perecíveis de Nova Iorque não estão sujeitos às regras do tempo como os alimentos que nos chegam, pobres mortais dos outros cantos do mundo; dica para todos que procuram o elixir da juventude: encharcar-se em conservantes para ninguém saber dizer a idade, corantes porque quanto mais vivas as cores, melhor e colocar uma etiqueta de orgânico, valoriza sempre) e é cobrada a preço de ouro. Todos os meus colegas com familiares ou amigos noutro estado admitiram assaltar as despensas quando iam para lá, sem vergonha, e só não trazer papel higiénico porque é difícil de transportar. Aqui podemos usar de uma maneira mais literal a expressão limpar o rabo a dinheiro (também comemos dinheiro, mas a mais próxima da realidade ainda é a bebemos dinheiro). Vou abster-me de exemplificar com cifras exactas, para não ferir susceptibilidades nem impressionar os mais sensíveis. Não se preocupem, não ando a passar fome, como a minha mãe pode testemunhar, ou até a minha avó, que em Portugal nunca me achou tão bonita (a qualidade da imagem do skype parece favorecer-me). 
E apesar do preço exorbitante da cerveja, na semana passada tivemos beer friday dois dias. Na terça-feira, dia de eleições aqui (sei que há quem desse lado esteja extremamente contente com a reeleição do governador Andrew M. Cuomo para NY), alguém se lembrou de ir buscar os restos da última sexta à câmara fria (sim, guardamos as cervejas com o PBS e o meio de cultura) e de os pôr na salinha comum, numa tina em gelo. Nenhuma das poucas pessoas que ainda estava a trabalhar custou muito a ser convencida a ficar para uma cerveja. Fomos surpreendidos pelo meu chefe, espantado, que nos pergunta se é sexta-feira, e ainda fica uma boa meia hora na conversa connosco.
Além da happy hour, também costumamos celebrar os aniversários de cada um com o cake time, a melhor e mais hipercalórica altura do nosso dia. Já provei vários tipos sumptuosos de bolos: normalmente é o chefe de grupo que compra; como exemplo um bolo de crêpe de uma qualquer pastelaria francesa (cuidado, para todos os que já tiveram desentendimentos por culpa da pronunciação, :cof cof: Miguel :cof cof:, é crêpe não crap). No meu grupo em específico há a piada de que o nosso chefe é tão forreta que é capaz de fazer brownies em casa para poupar dinheiro. Tenho apenas a dizer que chamar forreta ao meu chefe só pode ser aceitável tendo em conta algum padrão de um contexto de investigação sem constrangimentos económicos que nunca conheci.
No dia 5 (remember, remember...), um dos meus colegas decidiu juntar os alunos numa noite de 'games and mischief' em honra do seu terrorista católico extremista preferido. Fui introduzida a killer bunnies e ao cards against humanity. Recomendo vivamente. Como extra, fica um exemplo da banda sonora da noite (aqui), que sugiro passarmos a usar, eventualmente, se e quando nos voltarmos a reunir uma noite destas, talvez nas férias de Natal.
Entretanto as temperaturas começam a baixar por aqui. Quem me conhece bem sabe que tolero mal o frio. Aliás a maior preocupação da minha mãe antes de vir para aqui não era o ser perigoso, o vir sozinha, o dinheiro, nem nada disso, era apenas o frio "Ó minha filha, como vais tu aguentar aquele frio? E quando nevar? Vais ter que comprar um casaco quente! ...".



Ainda me perguntaram no outro dia se estava a apreciar este "unusually warm winter". Primeiro pensei que era ironia e sorri, até me aperceber que, infelizmente, era muito sério.
Para acabar, uma curiosidade. Descobri recentemente aquele que deve ser sem sombra de dúvida o pior trabalho do mundo. Já vos falei do metro de NY. Só a ideia de trabalhar no metro já é má. Na estação daqui perto passam dois comboios. Para aceder a um deles é preciso descer nuns elevadores. Num desses elevadores existe uma espécie de escritório onde está uma pessoa cujo trabalho é simplesmente carregar nos botões. Entre a superfície e o andar do comboio. Só isto. E como nestas coisas, é preciso ver para crer, deixo umas fotos. Primeiro achei que era uma pessoa louca. Fiquei convencida disso. E achei que a camisa da MTA era porque seria uma antiga funcionária do metro que tinha sido despedida. Até que mudou de pessoa. Simplesmente inacreditável. Além disso existem 4 elevadores e só um deles tem este "funcionário".



How are things on the west coast?

Temo ter deixado este blog de tal maneira ao abandono, que tenho demasiado para contar, e muito pouco jeito para o fazer.  Numa espécie de resumo atrapalhado, nestas semanas recebi a minha primeira visita (que não deixou de me trazer café do nosso cantinho atlântico e até bolachas triunfo), mobilei o meu quarto, andei a fazer turismo (incluo aqui a subcategoria turismo gastronómico, e posso subdividir ainda em fast food, entrega ao domicílio e cozinha do mundo; não confundindo a entrega ser geralmente feita por minorias étnicas com a cozinha do mundo), fui a uma parade, fui até ao Bronx e sobrevivi para vos contar, fui a uma festa de lançamento de uma marca de computadores e até fiz a minha primeira jack-o'-lantern de halloween. Não é de admirar que alguns dos neurónios das minhas culturas destas semanas tenham começado a morrer...



Começando pelo meu quarto, que tinha demasiado espaço livre. Acrescentei-lhe um sofá, uns tapetes, uma estante, umas mesinhas e muita luz. 




E para quem tiver reparado, sim, tenho lençóis dos patinhos. 

Tendo por exemplo o evento da hendrick's decidi ir à festa de lançamento da alienware, que prometia comida, bebida, um DJ e a oportunidade de experimentar os novos computadores, claro. Estive quase para desistir quando vi que a fila percorria um quarteirão e avançava uns míseros 30 metros por cada quinze minutos. Acabei por aguentar estoicamente cerca de uma hora e entrei naquilo que parecia uma discoteca. Deram-me uma pulseira que brilhava com várias cores e me dava a oportunidade de participar no sorteio de dois computadores. O bar era tudo o que prometia, aberto toda a noite com vários cocktails à escolha. Comida, não a vi. Reparei que havia muitas pessoas com desenhos fluorescentes na cara e fui para a fila para me maquilharem. Acabei com um alien azul na bochecha esquerda e uma espécie de circuito na testa do lado direito. Sendo caucasiana, e especialmente mulher, estava em minoria. Foi aí que realizaram o primeiro sorteio, do novo portátil da alienware. Iam desligar todas as pulseiras menos uma e o vencedor foi questionado o que iria fazer com o novo portátil, pergunta que se revelou estranhamente difícil de responder, visto que ele não jogava no pc e até a palavra steam lhe era desconhecida. Suponho que abrir uma festa ao público com bebidas grátis a noite toda não seja propriamente uma boa maneira de seleccionar o público alvo (eu incluída nesta crítica, apesar de certamente ir fazer melhor figura, tivesse eu ganho e não ele). Decidi aí que faltavam os computadores, não tinha ido ali para ir a uma discoteca (apesar de poder parecer essa a minha maior motivação). Descobri que havia um segundo piso, e aí sim, estavam os computadores todos e pessoas a jogar. Estive bastante tempo a ver algumas pessoas a jogar evolve, alone in the dark e borderlands. Entretanto uma animadora semi-nua com o corpo completamente pintado com padrões de tinta fluorescente veio oferecer-me um tubo de ensaio que brilhava com a luz negra com o que cheirava a tequila. Deitei o conteúdo ao lixo e guardei o tubo para trazer para casa, dado o meu fascínio por objectos brilhantes. Fiquei só à espera do segundo sorteio, do novo area-51, um computador com um design excêntrico. Não fui a sortuda contemplada. Mas, para ironia do destino, o vencedor foi um rapaz que meteu conversa comigo na fila para a pintura. Digamos que estava embriagado, não jogava computador, disse-me que estava a pensar ir embora, e fez ainda pior figura lá em cima no palco do que o primeiro. Bem, depois daquilo restou-me ir para casa de metro com a cara toda pintada. Habituados a estas estranhezas e loucuras, ninguém olhou duas vezes para mim, nem sequer para um bêbedo no metro que tossia de boca aberta e afirmava ter ébola e estar a contaminar toda a gente. Uma das maiores regras de NY que depressa aprendi, e disso ainda irei falar mais à frente: evitar contacto ocular. Também não estranhei que chegada a casa e tendo ido buscar uma encomenda ao porteiro, este tenha ficado mais espantado com o meu apelido do que com as minhas pinturas "Batista? Where are you from?". Nem uma pergunta sobre o alien.







 

Passando de uma festa para outra, e não querendo com isto dizer que não trabalho, vou falar-vos do Halloween. Aqui mascarar-se não é só para crianças, nem se cinge apenas ao tema do terror. Antes de mais vamos criar ambiente (carreguem aqui). Quando estive a escolher o meu fato reparei que aqui todas as lojas têm, para além das secções homem, mulher e criança, uma secção sexy. E esta secção é tão ou mais extensa que a mulher. Existe o fato de enfermeira (que já vem com saia acima do joelho e decote) e o fato de enfermeira sexy (com menos tecido substancialmente); o fato de tubarão e o fato de tubarão sexy; fato de índia e índia sexy; chegando a coisas tão disparatadas como "sexy darth vader", "sexy princess leia slave costume", ou mesmo coisas como a imagem abaixo...


Comprei um fato de criança. Como ia com o casaco por cima, não recrimino quem à primeira vista me viu com a câmara fotográfica e achou que eu estava mascarada de fotógrafa (ainda assim tinha a mochila enorme de plástico que tive que insuflar, :cof cof:, perdão, proton pack). E foi mais do que uma pessoa. Nota-se que muita gente tem bastante cuidado a planear o disfarce e a vestir-se. No metro vi um homem vestido de unicórnio, com boxers rosa brilhantes com uma cauda rosa acoplada, uma t-shirt de manga caviada rosa, cara pintada de rosa, peruca cor-de-rosa, uma bandolete com um corno branco na testa, luvas e até unhas cor-de-rosa e umas botas peludas e fofas de várias cores, onde, novamente, predominava o rosa. Sem dúvida o que mais ansiava da noite era fazer a minha primeira lanterna de halloween. Acho que as fotos falam por si, mas acabou por ser ao mesmo tempo mais fácil e mais demorado do que o que esperava. No final ficamos bastante contentes com o resultado.








A festa foi na casa de uma das minhas colegas de laboratório e se repararem na primeira foto podem ver um rato que ela roubou/salvou do biotério. 
Deixo tudo o resto para futuros posts, que espero manter com maior regularidade do que estas passadas semanas. Assim em jeito de P.S., também gostava de ter algumas notícias daí do oeste peninsular.
Powered by Blogger.