Wait and see
Vou começar pelo mais importante, sobrevivi à tempestade para comer o perú. Na realidade a tempestade foi mais falada do que vivida. Apenas nevou um bocado, uns pequenos flocos raquíticos que derretiam ainda antes de cair no chão e eram mais incómodos que bonitos. Ainda assim muitos amigos americanos se questionaram se eu alguma vez tinha visto neve assim. Claro que no nosso sunny Portugal não neva! E para quem não conhece, vale a pena ler este artigo que resume e satiriza estes preconceitos - Sunny Portugal. Apesar de que todas estas ideias das gentes daqui são ideias sobre os nossos vizinhos peninsulares. E, na falta de informação, em Portugal deve ser igual, é tão pequeno e tão perto. Ao menos os que me perguntam se falo espanhol são apenas uma minoria.
Mas a real preocupação com a tempestade era a possibilidade de estragar os planos do feriado mais esperado do ano, o thanksgiving. E a euforia foi tanta, que nunca na minha cozinha houve tantos papelinhos a oferecer ora chocolates, ora queijo, ora mousse, e a desejar um bom feriado a todas as roomies. Quarta à noite fiquei sozinha e ao menos posso ter a música nas alturas sem me preocupar o dia inteiro. Fui convidada pela minha colega de laboratório para ir jantar a casa dela, com a família da mulher, que vinham do sul. Não éramos muitos, e um único peito do perú chegou para nos alimentar e ainda sobrou. Havia o mítico perú recheado, enorme e gordo, bem cheiroso e barrado de manteiga. Aprendi que como é uma ave tão seca fica no dia anterior dentro de uma bacia com água salgada e precisa de ser barrado com manteiga por todo o lado, incluíndo por baixo e também por cima da pele. Havia ainda puré de batata, souflé de batata doce com marshmallows, uns legumes salteados, o famoso stuffing - recheio do perú, macarrões com queijo, ainda mais uns legumes, pão doce, e umas quantas sobremesas, além de umas entradas, das quais se destaca o brie com mapple syrup (estava a tentar por teimosia minha traduzir tudo para o português, mas não sei se xarope de ácer não será demasiado imcompreensível). Apesar de tudo, não sei se mal habituada pelo exagero familiar ou enganada por dividirmos habitualmente a comida em várias travessas, pareceu-me que as nossas festas têm mais quantidade. E questiono-me se batata doce com marshmallows e o cheesecake não me pareceram tradicionais por não estar habituada ou porque o bacalhau cozido e o bolo rei têm um ar mais rústico. Comemos pelas cinco da tarde e disseram-me que é normal neste dia só fazerem uma grande refeição, enquanto se vê futebol americano na televisão. Assisti ao halftime show, com o Pitbull e as cheerleaders dos cowboys de Dallas, que pelos vistos são as mais bonitas de todos os Estados Unidos, ou isso ou as mais despidas. Pareceu-me estranhamente familiar aos programas da manhã portugueses, com mais bailarinas, mais gente a assistir e a dançar, mas igual de bom gosto. Tinha feito leite creme e expliquei que era uma sobremesa típica portuguesa. Perguntaram-me se era parecida com o crème brûlée françês e se eu queimava o açúcar com um maçarico. Disse que não, que usavamos um ferro. Suponho que devem ter pensado que usei um ferro de engomar, porque sorriram, comentaram que era muito inventivo e fizeram um ar confuso quando disse que a minha avó também fazia assim. Mas quando me apercebi já era demasiado tarde para corrigir. Bem, fiquem avisados que algures por aí há americanos que pensam que em Portugal usamos o ferro da roupa nas nossas sobremesas (talvez por não termos dinheiro... é a crise...).
No dia seguinte, foi a intimidante black friday, onde há descontos em quase todas as lojas e as pessoas aproveitam para ir fazer compras, com um nível de agressividade proporcional ao desconto do produto. Fui trabalhar e nunca estive tão sossegada desde Setembro. Estava sol, finalmente descobri qual o piso por onde posso ir para a ponte que une o edifício contiguo ao meu com outro edifício do campus hospitalar do outro lado da rua, e de onde há uma vista bonita, e trabalhei sozinha e feliz. Já no dia anterior tinha notado uma diferença na quantidade de pessoas a andar pela rua, e mesmo no metro, onde vi muitas mais famílias com crianças pequenas, casais idosos super arranjados e no geral melhor aspecto que a mediana deste meio de transporte nesta zona específica da cidade.
Aproveitei ainda para caminhar/correr até à ponte com a câmara atrás para tirar umas fotos do pôr do sol (e tive mesmo que correr para não o perder). Podem, pela primeira vez, ver a torre onde moro e as suas duas gémeas, do outro lado agora. Finalmente umas vistas de NY e não de Jersey.
Como bónus, passei por acaso por este videoclip (aqui) e reparei que foi filmado em NYC e mostra um bocado o lado não tão glamoroso da cidade (e o metro, reparem bem no metro!), e chega até a dar uma ligeira sensação de falta de espaço. Também gosto muito da música e o videoclip foi filmado com os pais dos artistas a fazerem a vida dos filhos (reparem quando estão a fingir que tocam ou cantam).
Entretanto decidi que já passou esta época festiva e então, que venha a próxima! E fui comprar decorações de Natal e preparar a minha casa, vá, o meu quarto para acolher a alegria. Já tinha anteriormente decidido encher o meu quarto de fotografias e achei que a decoração natalícia ia completar. Pelo sim pelo não, fui ainda comprar vinho do porto, caso as duas primeiras opções falhassem.
Entretanto decidi que já passou esta época festiva e então, que venha a próxima! E fui comprar decorações de Natal e preparar a minha casa, vá, o meu quarto para acolher a alegria. Já tinha anteriormente decidido encher o meu quarto de fotografias e achei que a decoração natalícia ia completar. Pelo sim pelo não, fui ainda comprar vinho do porto, caso as duas primeiras opções falhassem.
Igualmente terapêutico é aproveitar o tempo livre e a temperatura amena, ou, pelo menos, não glacial, do meio dia para ir dar uma corrida pela margem do rio. Descobri recentemente que se correr mais uns três kilometros, consigo chegar a um pequeno parque bastante bonito e geralmente pouco frequentado. E se não me virar para trás e estiver com auriculares quase me consigo abstrair de que continuo mesmo no meio da confusão (directamente atrás do parque há um supermercado com um parque de estacionamento grande e muito movimento de carros e pessoas). Além disso é impossível ficar indiferente quando enquanto corres assustas um esquilo, que deixa cair a sua bolota e rapidamente baixa a cauda para tapar a cabeça, resumindo a sua actividade quando repara que não és um perigo. Ou quando vês que um esquilo olha para ti, repara que corres na sua direcção e mergulha no meio da folhagem, ficando só com a cauda peluda de fora. Acho que já por várias vezes me ri sozinha, sendo que nunca estás verdadeiramente sozinha aqui, nem a correr, mas também, aqui vê-se de tudo e já ninguém liga a nada. Já vi várias pessoas a correr com o cão atado com uma trela. Já vi um homem a correr de fato de treino enquanto empurra um carrinho com um bebé lá dentro. Não sei se esta cidade deixa as pessoas loucas, se os loucos decidem vir para aqui, ou se apenas afecta todas as pessoas com alguma predisposição, que seriam sãs noutra cidade qualquer. Nunca vi tanta gente com comportamentos tão estranhos como aqui. Nem com todo o tipo de doenças mentais que muitas vezes nem consigo identificar, alguns talvez sobre o efeito de drogas. Alguns exactamente como nos filmes, aqueles em que o actor se esforça demasiado para ser cómico e parece falso. Se fosse em Braga diria que estariam a fingir.
E já só faltam três semanas. Espero ver-vos não tarda nada e ouvir novidades da vossa parte, porque o meu tema está praticamente esgotado com tanto que escrevo. Acho que o próximo passo para mim é comprar um calendário para ir riscando os dias.
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