Geraldines Routine

15:37 2 Comments

Para contrastar com as minhas histórias mais que banais de NY, hoje trago-vos o lado mais famoso de NY, onde tudo pode acontecer, where the unusual is usual!
Aconselho todos vivamente a lerem esta parte inicial do post e a verem as fotos ao som desta bada sonora (aqui).



Há umas semanas atrás vi este anúncio da Hendrick's e decidi reservar. Não havia rigorosamente mais nenhuma informação sobre o evento. Tal como li postumamente num artigo de uma revista, os curiosos foram recompensados.
Acabei a noite (ou a hora, para sermos mais exatos) com uma rosa, um poema, um baralho de cartas muito especial, uma foto com um anão, um novo nome dado por uma vidente e uns quantos cocktails em cima, tudo completamente grátis. Ainda trouxe comigo uma edição do Unusual Times (vale a pena visitar; link para o site aqui).














A vidente baptizou-me de "far seeing", porque via o mundo através de uma lente e ... (aqui perdi-me um bocado, depois contestei que não foi grande adivinhação porque estava de óculos e com a câmara; também não liguei muito à resposta, confesso). 
Depois disto tive que ir jantar e foi a primeira vez que respondi genuinamente à empregada quando me perguntou "So, how are you tonight?". E este é um dos costumes americanos que mais que incomodam. Em todo o lado, sempre, sem exceção, inclusivé por telefone, antes de começarem a conversa, todos te perguntam "então, que tal está hoje?" ou "como se sente?". E não falo de conversas entre amigos, isso seria normal. Em qualquer restaurante, café, loja e a falar por telemóvel. "So Miss Batista, how are you feeling today?" "Good" (não consigo soar senão falsa. não estou habituada, nunca me lembro e vou sempre preparada para começar logo a falar do que quero ou do que me trouxe ali) "I'm really glad!" (como se não bastasse a pergunta, e a minha falsidade na resposta, ainda é costume responderem aparentemente super contentes e genuinamente felizes por eu estar bem). E uma colega minha do sul dos Estados Unidos ainda comentou comigo que aqui em NY as pessoas são geralmente mais antipáticas que no sul, apesar de no sul serem conhecidos por cortarem na casaca nas costas. Eu apressei-me a dizer-lhe que no geral os portugueses são muito simpáticos e que a simpatia é genuína e nada têm a ver comigo, não fosse ela pensar que somos todos antipáticos como eu. Têm que me vir visitar para corrigir esta ideia enviesada dos portugueses. Procuram-se visitas tugas, morenas, barulhentas e faladoras! 

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Fala-me também do fado

09:15 1 Comments

Dizer que passadas três semanas já tinha saudades é um bocado exagerado, já para não dizer uma afronta contra quem está aqui já há mais tempo. Nem sequer se pode falar bem em saudade. Primeiro porque desde que vim para aqui ainda não houve um único dia em que não ouvisse nem falasse português. Depois porque não se pode dizer que comer salada de polvo ou ouvir fado fosse algo que eu fizesse habitualmente em Portugal. 
Quando andei a passear pela California já há uns anos os americanos com quem falava ou não conheciam Portugal ou achavam que pertencia a Espanha. Por isso vim com a ideia errada de que ia ser uma espécie rara por cá. Depressa descobri que há uma grande comunidade portuguesa em Newark (sim, a tão adorava New Jersey que os nova iorquinos tanto admiram). Mas o mundo ainda me quis provar mais errada e, só no piso onde trabalho, existem mais dois portugueses. A única coisa que não desilude é que os meus colegas de trabalho, quer por confusões com o sotaque alemão do nosso chefe, quer por confusões geográficas, durante algum tempo antes de eu chegar referiam-se a mim como a rapariga do Peru. Ainda não consegui perceber quando e como se desmistificou a minha origem.
Bem, ontem juntei-me a um grupo de portugueses que moram na ilha (sim, podemos simplesmente referir-nos a Manhattan como "a ilha", e também é uma ótima maneira de quebrar o gelo "então, estás a morar na ilha?") e fomos ver uma fadista portuguesa a um restaurante português.  O restaurante chamava-se "Pão" e era tão apertado como qualquer boa tasca portuguesa deve ser. O menu estava em português também, os empregados eram portugueses, o vinho era português, mas os preços e a tip eram bem americanos. Talvez porque também o era o gerente, que além de não entender a língua, ainda tentou muito discretamente pôr uns auriculares enquanto a fadista cantava. Os restantes clientes americanos aplaudiram efusivamente e se não gostaram tanto como nós portugueses, não ficaram para trás na demonstração pública de agrado.


É curioso como a minha inaptidão social é completamente independente da língua. A minha simpatia com desconhecidos mantém o seu estado basal tanto em português como inglês. Mas nesta noite em específico, quando uma das portuguesas me dizia que tinha uma amiga de Viana e costumavam sair pelo Industria, eu disse, completamente sem pensar que "o Indústria já é antigo". Podia passar completamente despercebido. Mas a pausa do discurso e a cara de dor foram apanhados por todos na mesa, que desataram a rir e a gozar, até mesmo a soltar algumas piadas. Sei que o meu comentário ficou marcado, porque não tinha terminado o jantar ainda e já se ouviu um "eu já fui chamada de velha hoje". Simplesmente desastroso.
Entre o jogo de futebol e a ida ao restaurante português, pode-se dizer que ando mesmo a imiscuir-me na cultura americana.

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